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terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Tolerância Zero para DENEGRIR

05/05/2005

A Polêmica da Cartilha do Politicamente Correto
ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL
O TEMPO, BH, MG4 de maio de 2005 FÁTIMA OLIVEIRA
Denegrir é um vocábulo racista. Há muitos e muitos anos aprendi, não lembro-me exatamente onde, mas creio que há uma dissertação de mestrado sobre o tema, que em português só há duas expressões consagradas pelo uso popular que não se referem a coisas ruins relativas a pessoas negras, que são “Grana preta” – que significa muito dinheiro – e “Cocada preta” que, conforme especialistas, é a melhor cocada. As demais expressões, e relembre aos montes, sempre significam uma depreciação e exemplificam situações extremamente negativas, condenáveis e indesejadas. Logo, são ditos de cunho racista, ainda que em nosso país sejam naturalizados e banalizados. Portanto, dá comichão que o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, cardeal Geraldo Majella Agnelo, ao se contrapor às críticas do teólogo Leonardo Boff sobre o papa Bento XVI, tenha dito que muitas pessoas religiosas aceitaram as reprimendas do ex-Santo Ofício e que, ao contrário de Boff, “Nunca abriram a boca para DENEGRIR a Igreja, o Evangelho e o papa” (grifo nosso), conforme publicado no Correio Braziliense e em O Globo (1o./05/05). Pegou pesado o cardeal. E, lamentavelmente, extrapolou. Nesse sentido, é de uma importância crucial o lançamento, pela Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, da cartilha “Politicamente Correto”, que tem como público prioritário políticos, jornalistas e professores, na qual estão elencadas expressões do dia-a-dia que devem ser banidas pela conotação pejorativa e/ou discriminatória para alguns grupos, como gays e lésbicas, negros e mulheres. Um exemplo que consta na cartilha é que verbalizar que “A coisa ficou preta”, refere-se a uma situação negativa. Não há dúvida que cabe a autoridades eclesiásticas em nosso país também serem, pelo menos, vigilantes, quando abrirem a boca, pois realmente “O hábito faz o monge”. Não fica bem ao Primaz do Brasil se apoiar em uma palavra inegavelmente de teor racista para destratar um oponente, a não ser que ele realmente seja um racista confesso. Por enquanto, pessoalmente acredito, não é o caso de Dom Geraldo Majella Agnelo – uma pessoa afável no trato pessoal que, com certeza, não é exatamente um racista de plantão, embora tenha se expressado de modo racista, o quê evidencia a longa estrada que em nosso país teremos de percorrer para desbancar a cultura racista impregnada em todos os espaços da vida social. Aguardamos uma retratação do Primaz do Brasil como uma contribuição louvável e benfazeja à luta contra o racismo e à Marcha Zumbi +10.
A médica Fátima Oliveira escreve às quartas-feirasE-mail: fatimaoliveira@ig.com.br

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